Cientista político Celso Roma diz que lei protege 'infiéis' perseguidos nos partidos, mas lembra 'prestação de contas ao eleitor'
A criação de um novo partido no berço das duas maiores legendas do País – PT e PSDB – fez com que a movimentação política para a sucessão em São Paulo tivesse início quase um ano e meio antes das eleições municipais. Lançado em março pelo prefeito Gilberto Kassab, o Partido Social Democrático (PSD) se tornou uma espécie de guarda-chuva para políticos descontentes em seus partidos de origem, sobretudo DEM e PSDB – que, na última semana, assistiu ao anúncio da saída de sete de seus 13 vereadores paulistanos (seis já oficializadas).
A migração entre legendas, intensificada nos últimos dias, reacendeu o debate sobre fidelidade partidária no País. O movimento mais recente foi o anúncio de que Gabriel Chalita, um dos candidatos que mais recebeu votos para deputado federal em 2010, está a caminho do PMDB para disputar a prefeitura paulistana.
Apesar do entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) segundo o qual o mandato pertence ao partido político ou à coligação, e não ao eleito, as mudanças recentemente observadas estão de acordo com as brechas existentes na própria legislação, segundo o cientista político Celso Roma, especialista em partidos políticos.
“A legislação tem brechas que permitem a mudança de filiação partidária, no caso de políticos que não exercem cargo eletivo, mandatários que sofrem perseguição política ou aqueles que se reúnem para fundar um novo partido político”, lembra o pesquisador.
Para Celso Roma, as exceções na lei sobre fidelidade partidária devem ser vistas como “positivas”, pois evitam o que considera um “mal maior”: a violação de direitos políticos. “Se a ideia de fidelidade partidária for levada ao extremo, será restaurada a lei que vigorava durante a ditadura militar, período em que a liberdade de associação política era restrita e vigiada”, diz.
Segundo Roma, a discussão sobre fidelidade partidária no Brasil nasceu e se reproduz “por casuísmo”, já que é resultado de uma consulta feita em 2007 pelo então PFL (hoje DEM), pelo PSDB e pelo PPS ao Supremo Tribunal Federal. “Foi um debate feito menos por convicção no conceito de fidelidade partidária e mais por necessidade de recuperar as cadeiras perdidas na Câmara dos Deputados, em decorrência da perda de filiados. É isto que está se repetindo neste episódio com os vereadores da Câmara de São Paulo”.
Em meio à movimentação política, e na tentativa de estancar os estragos que o PSD – provável destino de parte dos dissidentes – começa a provocar, quatro partidos (DEM, PTB, PPS e PMN) se uniram, no começo da semana, numa estratégia jurídica contra a nova legenda. O objetivo é impugnar a formação da agremiação quando o registro for solicitado à Justiça Eleitoral e reivindicar o mandato dos políticos que deixaram seus partidos. O PSDB ainda pode se aliar à estratégia.
“Os membros do PSD estão em uma encruzilhada: não podem expressar abertamente suas crenças em favor do mercado e de políticas universalistas (contra cota racial, por exemplo) porque entrariam em conflito com os ideais do PT e da presidente Dilma Rousseff; também não podem renegá-las porque acreditam nisto e, se o projeto do novo partido fracassar, podem retornar para onde partiram. Os líderes do PSD apostam todas as fichas na roleta da eleição de 2012. Se fracassarem, correm o risco de encerrar as atividades e se fundir com outro partido”.
Fonte: Ig
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